Bom dia • 04/05/2025
Luciano Pimentel – Eu tenho acompanhado este debate com muito interesse. Diria, até, que com duplo interesse. O primeiro, é o que me deixa totalmente à vontade para ser a favor desta tradição, pensando nos seus praticantes. O segundo, é o que me coloca em face de uma legalização que garanta cada vez mais o bem-estar dos animais usados na vaquejada.
LP – Eu não vejo contradição nas duas defesas. Quando defendo a tradição da vaquejada, estou me referindo a um aspecto quase sentimental da cultura do povo do Brasil interior. Do Brasil dos grotões. Não é necessário ser um sociólogo ou economista para saber a importância e o peso do boi na formação do Brasil, na sedimentação da nossa colonização e da nossa cultura. Isso começa com as chamadas atividades de apartações, quando se buscava o boi num extenso território sem cercas. Assim, pela mão do homem e pelo casco com boi, colonizamos o país, sobretudo a região que fica para além do litoral, uma vez que na litorânea a cana de açúcar prevaleceu. A relação de trabalho entre homem e animal evoluiu para uma de entretenimento entre o vaqueiro e o boi. Isso é algo bem cravado na nossa paisagem cultural. Quando defendo a manutenção da vaquejada, estou me referindo a isso. Mas é claro que todos queremos, neste contexto, o bem-estar dos animais. E isso é possível.
LP – Impondo limites de exposição do animal ao estresse da derrubada. Como? Não permitindo que ele seja utilizado diversas vezes numa mesma festa e encontrando outras soluções. Hoje, sabe-se que há até a proteção para o rabo dos animais, por onde ele puxado para a queda. E que se exige uma cama de areia, um piso, específico, para se evitar machucações.
LP – Cada povo tem suas tradições, e eu respeito a de todos. Mas a nossa vaquejada não guarda nenhuma semelhança com estas duas atividades referidas. Para começo de conversa, na Farra do Boi o animal era maltratado propositadamente com chutes, paus, pedras e terminavam por levá-lo ao sacrifício. Algo, de fato, abusivo – e por isso foi, definitivamente, proibida. Na Espanha, em boa parte das brincadeiras, exceto aquelas de ruas, os animais terminam sacrificados. Na vaquejada nordestina, e até no rodeio praticado mais no Sudeste, nada disso acontece. Os animais são tratados como quase atletas.
LP – A minha esperança, e a de milhares de vaqueiros, praticantes, observadores e estudiosos desta atividade, é a de que haja bom-senso e que se regulamente a atividade, mesmo que tenha de impor regras mais duras, mais rígidas.No começo desta semana, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou parecer de autoria do senador Otto Alencar, da Bahia, que eleva esta atividade à condição de manifestação cultural nacional e de patrimônio cultural imaterial. O parecer é correto. Acho que o caminho é por aí. Espero que o que o Congresso decida, em forma de projetos, o presidente Michel Temer sancione e acalme a inquietação dos homens rurais.
LP – Vi com extrema naturalidade, e dei o meu apoio. Dei e darei. Peço aos defensores dos animais que não imaginem que eu esteja destoando muito dos seus pontos de vista. Eu também defendo um tratamento saudável aos animais envolvidos nesta atividade. Defendo práticas saudáveis envolvendo-os. Mas jamais seria insensível ao ponto de desconhecer o significado da vaquejada para os homens do interior do meu Estado, dos demais do Nordeste e de outras regiões do Brasil. No caso dos praticantes sergipanos, eu os conheço. Tenho muitos amigos vaqueiros e que se dedicam às vaquejadas pelos municípios e povoados. Sei da prática e das intenções deles. São as melhores possíveis.
LP – Pois é, trago, aqui, também, esse outro aspecto bastante relevante. Há estimativa da Associação Brasileira de Vaquejadas (ABVAQ), de que essa atividade mobilize no Brasil, por ano, algo perto de R$ 600 milhões. Ela conta com três milhões de adeptos, com mais de 4 mil provas anuais e tem crescimento de 20% ao ano. Em alguns aspectos, esta atividade é mais popular que o futebol para o homem do interior. Podemos, então, desconhecer o peso disso, por acaso? Quando todos aqueles vaqueiros de Sergipe estacaram na porta da Assembleia Legislativa e depois marcharam sobre a Atalaia, eu percebi ainda mais o peso e a importância deles. Uma importância que eu conheço muito da vivência com o homem do interior. Exijo, enfim, respeito e bons tratos ao boi, mas sou a favor da vaquejada.
Foto: Assesoria LP
Por Jozailton Lima
Por: Jornal Simãodiense jornalsimaodiense